Eu sei que parece um pouco tarde para falar sobre isso, mas toda virada de ano costumamos fazer nossas resoluções de ano novo, e comigo não é diferente. Na verdade, eu comecei a fazê-las alguns dias antes do novo ano se iniciar, desta vez de uma maneira menos teórica e sim prática.
A analogia da vida com um poço é muito real, muitas vezes descemos, descemos, sem saber onde é o fundo dele, mas não conseguimos reverter esse processo, não conseguimos mudar a direção da nossa movimentação, mesmo quando olhamos para cima e luz fica mais e mais distante. O grande problema é que não sabemos qual é o fundo, pois toda vez que jogamos uma moeda para ouvi-la chocá-la com o chão, nenhum som retorna. Essa é a suave ironia da vida.
Quando descemos muito, começa a ficar frio, sentimo-nos cada vez mais cansados, exaustos mesmo pela falta de um ponto de descanso. A água rareia, a comida idem, o sono chega, mas um movimento em falso pode significar uma queda irreversível.
É sabido que quando inalamos uma grande quantidade de alguns gases tóxicos ficamos com sono e que acabamos cedendo ao sono, mesmo sabendo que esse sono será fatal, o último que teremos. E algumas vezes em nossa vida, intoxicados pelos seus odores, buscamos este sono, uma falsa paz que na verdade precipita o fim.
Infelizmente, deixei-me levar por tais, estagnando a minha vida por alguns anos, entrando numa espiral negativa, não conseguindo apreciar as poucas coisas boas que me aconteceram e, pior, não consegui deixar que tais fizessem a diferença em alguns momentos, vi-me cego para tais, deixando escorrer pelos meus dedos todas as coisas boas.
Mas, como podemos deixar o exterior nos afetar, se nosso interior está corroído? De que adianta o acabamento se os alicerces estão podres? Com certeza, o prédio irá ruir. Como ruiu o meu, no final do último ano, após diversos alarmes. E, ao chão, resta apenas reconstruí-lo, em bases mais sólidas, mesmo que isso signifique deixar para trás todas as coisas boas, por mais que você deseje carregá-las contigo.
Metáf0ras a parte, resolvi parar, respirar fundo e rever tudo de certo e errado que eu vinha fazendo, analisar a minha posição nesse universo, tanto micro quanto macro e, principalmente, parar de esperar e começar a agir.
A primeira coisa que fiz para romper com o status quo foi aproveitar minhas curtas férias e ir para um lugar longe, recarregar minhas pilhas e começar tal. Lembro que em 2003 eu fiz exatamente isso e não me arrependo das decisões que tomei. Viajei, conheci pessoas incríveis, mas mais do que isso reencontrei uma amiga que há muito não via, que achei que nunca mais veria e que me ajudou muito nesse processo. Foram horas e horas e horas de conversas de todos os tipos, desabafos, risos, lamentações e, principalmente, conselhos dos quais nunca esquecerei. No ônibus de volta para casa remodelei o meu futuro.
Decidi lutar pelo que quero, não deixar mais as intempéries da vida sobrepujar a minha vontade, mesmo que isso signifique modificar alguns dos meus projetos, abrir mão de alguns confortos.
O projeto já está em andamento, fiz algumas coisas que deveria ter feito há muito tempo, reaproximei-me de algumas pessoas que me são importantes, mesmo que nesse ínterim eu tenha sido ausente para outras por demais valiosas, conheci pessoas que me abriram novos horizontes e, sem perceberem, me deram forças. Abracei-me mais fortemente ao que acredito e aprendi a deixar ir aquilo que me fazia mal.
Porém, principalmente, perdi o medo de querer ser feliz. Deixei de me sentir culpado por tentar ser algo que eu não estava sendo, e que na verdade é o meu verdadeiro eu. Quero muitas coisas, e muitas coisas conseguirei. Obviamente não imediatamente, mas sim no transcorrer da minha vida.
Quero acordar pela manhã e ir para o trabalho com um sorriso no rosto, quero sentir prazer no que faço, mas, principalmente, sentir orgulho de mim por fazê-lo.
Quero ganhar dinheiro e gastá-lo com o que realmente importa: comigo. Não preciso de casas enormes nem carros caros, pois tudo isso é facilmente tomado de você e, quando isso acontecer, vai doer muito e você demorará para se recompor. Quero aquilo que ninguém jamais poderá tomar de você, alegrias, lembranças e conhecimento.
Quero viajar muito, nem que eu tenha que deixar o conforto da casa, mas quero desbravar o mundo.
Quero estudar, sentir-me útil, demolir o marasmo intelectual que fortifiquei em volta de mim.
Quero conhecer muitas pessoas novas, e poder abraçar, ao menos uma vez na vida, cada um dos amigos que eu vier a fazer. Quero também abraçar novamente todos os amigos que já tenho e que há muito não vejo, não importa em qual lugar do mundo eles estejam.
Quero passar os finais de semana na chácara, com a minha família, bebendo, comendo, rindo, sem nenhum pesar nem preocupação.
Quero um dia ter ao meu lado uma pessoa que me faça feliz, que eu possa chamar de melhor amiga, com quem possa conversar, desabafar, chorar, comemorar. Alguém para dividir a cama e os abraços.
Quero ter nos meus braços uma pequena criança, e poder enfim saber qual deve ser a mágica sensação de ser pai. E depois ver essa criança crescer, ver o seu sorriso.
Quero escrever. Livros, contos, romances, roteiros. Quero que as pessoas leiam, amem ou odeiem, mas que isso as façam pensar.
Quero sair com amigos. Beber no boteco, assistir a um show, jogar vídeo game ou um jogo de tabuleiro, ou simplesmente conversar. Quero manter meus amigos sempre próximos, se não fisicamente, pelo menos espiritualmente.
Quero ser feliz. Afinal, todos nós temos direito a isso!
3 comentários:
Que lindo! Tenho certeza de que você será muito abençoado nesses teus propósitos. Fique firme e mantenha a cabeça erguida!
Conte comigo!
Beijo
Você precisa ver meu sorriso agora...tão feliz.
Beijome...
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