Qual a receita de um bom filme? Calma, eu não estou falando daquelas obras primas, que surgem uma vez na vida, com um tema completamente inovador e que explodem o cérebro de quem assiste, mudando suas vidas para sempre e tornando-se atemporais. Não, eu falo bem menos do que isto, eu falo de um bom filme para mim, uma pessoa ‘comum’, que não conhece mais do que cinco diretores, que assiste mais filmes no DVD do que no cinema, mas que, por outro lado, adora se emocionar, se divertir ou se aterrorizar com eles.
Houve uma época da minha vida em que o filme precisava ter explosões ou lutas ou aventura ou mortes ou tudo ao mesmo tempo. Mas eu me cansei disto, ainda assisto alguns destes gêneros, mas estão longe de ser uma aposta certeira. Porém, eu acredito que não exista necessariamente uma receita, como de bolo, para ser fazer um grande filme, mas alguns quesitos ajudam em muito.
Um filme que nos divirta é sempre muito bem vindo. Claro, adoro alguns densos, mas nem sempre é o horário. É aquilo que chamo de filme de domingo a noite, quando você não está necessariamente a fim de pensar muito, apenas imergir numa história ficcional por aproximadamente duas horas, de pessoas imaginárias em situações imaginárias, mas que arranquem de nossos rostos carrancudos e cansados um sorriso.
Um bom roteiro também ajuda muito. Dá para ser bom sendo óbvio e dá para estragar uma história inovadora, mas convenhamos que sair do básico é muito interessante. Novidades, situações imprevisíveis, nada que nos deixe com um gosto de café requentado na boca.
Também gostamos de nos identificar com os personagens. Quando os vemos com problemas, dúvidas, angústias, sofrimento, conquistas, alegrias semelhantes àquelas que vivenciamos, temos uma tendência a nos apaixonar por eles, a torcer ou sofrer por e com eles. Afinal, todos nós passamos por estas sensações no decorrer de nossas vidas, mas temos a tendência egoísta de achar que tudo é conosco e apenas conosco, principalmente as situações mais amargas. E, vermos cenas que presenciamos na tela de uma TV ou do cinema nos faz sentirmos mais humanos.
Encaixando tudo isto, uma ótima trilha sonora. Canções que se encaixam em cada situação, que amplifiquem a emoção, tornando parte do universo retratado. Uma canção que nos faça sorrir ou que nos faça chorar. Porque a música tem esse poder, esse dom mágico de atingir a parte mais inatingível de nossa alma e arrancar nossos sentimentos à força.
Porém, precisamos de atores carismáticos e com química, pessoas que olhemos e nos espelhamos. Homens e mulheres que nos façam desejá-los, loucamente, e não porque eles são maravilhosos deuses gregos do photoshop, mas sim porque são normais, e isto é o que mais nos atrai.
E, finalmente, o amor. Sempre ele. O maldito amor. O bendito amor. O amor que constrói e o amor que destrói. O amor da certeza e o amor da dúvida. O amor puro e o amor turvo. O amor que você ama e o amor que você odeia. O amor, ou alguma coisa perto dele.
Sofremos com os personagens porque sofremos em nossas vidas. Também perdemos nossos amores, deixamos eles escapar pelos nossos dedos, como a areia levada pelo vento litorâneo, em direção ao mar. Sofremos porque fazemos merdas, insensatas e impensadas, que maculam tudo o que um dia foi perfeito e puro. Sofremos porque vemos a porta de nossas vidas abrir, o amor sair por ela e batê-la, para nunca mais abrir.
Mas também nos deleitamos com o primeiro amor, o primeiro verdadeiro amor, aquele que, ao sentimos, percebemos imediatamente que todos os que anteriormente vivemos não foram o que achávamos que eram. Sentimos borboletas no estômago e frio na espinha, mãos suadas, voz fraquejante e frases desconexas, a perda do senso crítico. Sentimos também a redescoberta do amor, o árduo trabalho de remover toda a rocha que cresceu em volta de nosso coração, deixando o rubi lapidado e brilhante para, então, perceber que a vida continua, que sempre há espaço para mais felicidade, basta deixarmos. E sabermos ler nas entrelinhas e nos pequenos detalhes da vida.
Muitos filmes já vi que se encaixam neste modelo, daqueles que você termina e pergunta ‘por que não posso ter uma vida dessa para mim’, mas dois são especiais. O primeiro é ‘Elizabethtown’, pois a primeira vez que eu o assisti, foi um tapa na minha cara, por estar num momento depressivo e solitário da minha vida e por mostrar que existe vida após o final no poço, basta sabermos deixar a vida fazer a sua parte. É um vídeo que agora faz parte da minha videoteca e que, com certeza verei e reverei novamente. E, como todo bom filme, o melhor não é o roteiro em si, e sim as pequenas partes.
Partindo disto, duas me são extremamente deliciosas. A primeira é a conversa que ambos tem por celular, que dura horas e horas, sem nunca acabar. Quem já se encantou por alguém sabe o que é perder horas num único telefonema e, assim que desligar, ficar com aquele gostinho amargo de quero mais. O segundo é a parte da viagem final, com as músicas e o mapa. Primeiro pelas canções em si, por eu ser um verdadeiro fanático por música e o segundo, pela sensação de liberdade de dirigir horas e horas a fio, sozinho, sem nada em que pensar e sem saber para onde a estrada vai te levar. Prometi, com isto, a mim mesmo, que assim que acertar a minha situação, farei uma desta, levando comigo apenas muitas canções, um mapa e o incerto, parando em cada ponto que me identificar para jogar as cinzas de uma era espinhosa, mas que moldou meu caráter. A despedida de uma vida e a celebração de uma nova era. É o roteiro que eu gostaria de ter escrito, se tivesse capacidade. E não exagero quando digo que é o filme da minha vida.
O segundo que me atingiu como um soco no queixo foi ‘The Last Kiss’. É uma história de dúvidas, de angústias, de mudança de uma fase para outra da vida, como se estivéssemos na beira de um desfiladeiro e tenhamos que escolher permanecer nesta beirada ou pularmos para o outro lado, pois é isto que esperam da gente. É sobre decisões. É sobre deixar para trás.
Afinal, estamos prontos para seguir adiante? E será que é mesmo necessário deixar para trás uma vida para viver outra? Casamentos que ruem por causa de filhos, separações que ruem corações, medos que ruem nossa confiança. Mas, afinal, amar não é ceder? E quem disse que o lado de lá não tem as suas vantagens?
Minto ao dizer que não penso muito sobre isto. Estou com 32 anos, tenho um sobrinho maravilhoso da minha irmã que é mais nova do que eu, estou vendo meus amigos se casarem, terem filhos, e eu, no momento encontro-me no limbo. Minto se disser que não quero isto novamente, pois já tive antes e me foi maravilhoso. Mas também minto se disser que não tenho medo, do que pode virar a minha vida com tão importante decisão.
Medo, é este o maior tempero da vida. Não existe nada na vida sem uma pontinha de medo, muito menos o amor. O amor e o medo caminham lado a lado, pois a comodidade é o pior inimigo do primeiro e o segundo é o ingrediente mágico para acabar com ela.
É, o amor é a razão de tudo. ‘All you need is love’. E é por ele que acordamos todos os dias. Para conquistá-lo ou para mantê-lo. Para descobri-lo ou para redescobri-lo. Para nos propiciar nosso maior sorriso, para abraçar a pessoa amada sem qualquer razão, para o doce sofrimento que só a saudade pode gerar. O amor é o mel e o fel, um completando ao outro. É a esperança, pois pior que a lágrima do amor perdido, é a dor de nunca ter amado.
2 comentários:
com todo o respeito que eu tenho por vc, preciso comentar: VSF! haha
acertou em cheio... é isso mesmo (e isto poderia ter sido uma música...)
Bjs
Isa
;)
SONHUX NÃO ENVELHECEM...
ELES ESTÃO NUM HORIZONTY MUITO PRÓXIMU ;) =p
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