quarta-feira, agosto 18, 2010

Meu Livro

Quem não leu, agora pode ler o "Quando a Vida Imita a Arte" no Bookess, no link abaixo:

terça-feira, agosto 03, 2010

Nunca diga que isto aqui é 'apenas' futebol

Perdi a conta de quantas vezes, após uma derrota do Palmeiras, eu, de mau humor, ouvi de muita gente: Por que você está bravo, isto é apenas futebol, você não ganha nada com isto. Mas isto é uma grande mentira, e quem não entende o que isto realmente é, deveria se abster de qualquer comentário nesta hora.

Futebol nunca é apenas futebol. Futebol é amor, é paixão, no seu maior nível. Na vida você pode trocar de tudo, de esposa, de orientação política, de carreira, de religião, de opção sexual, mas nunca, em tempo algum, você pode trocar de time. E outra coisa, você nunca escolhe o time para o qual vai torcer por alguma razão aparentemente racional, é ele que te escolhe e, quando você menos percebe, é um torcedor apaixonado.

Futebol nunca é apenas futebol, pois eu não sei separar a minha vida de antes ou depois dele, pois para mim eu sempre fui um torcedor, e não lembro de uma vida sem torcer. As primeiras lembranças que eu tenho de futebol são de 85, quando o Palmeiras perdeu para o XV de Jaú por 3x2 no Palestra. Estávamos voltando da chácara da minha vó e meu pai ouvia o jogo no carro, que terminou pouco antes de chegarmos, e eu lembro claramente dele muito puto e decepcionado.

Futebol nunca é apenas futebol porque eu não consigo separar a relação com meu pai sem o futebol, e sem o Palmeiras. Depois daquele dia, eu passei a ser um torcedor apaixonado, junto com ele. E ele me levou as primerias vezes ao estádio. Ele me levou 2 vezes ao estádio da Inter de Limeira, me levou ao Pacaembu ver o Palmeiras jogar com o Vasco e empatar em 1x1, me levou algumas vezes ao Palestra, tudo isso quando eu era criança. Lembro que cada jogo era uma epopéia, e eu adorava cada momento.

Futebol nunca é apenas futebol porque eu lembro das noites que eu passei acordado até tarde, gravando os melhores momentos dos jogos do Palmeiras para quando meu pai chagasse do trabalho, ele pudesse assistir.

Futebol nunca é apenas futebol porque eu perdi noites e noites sofrendo com derrotas do Palmeiras nos anos da fila, derrotas inaceitáveis, que eu acampanhava num velho radio que tinha e ficava, na minha cama imaginando como as coisas se desenrolaram. Inter de Limeira, Ferroviária, Portuguesa, Bragantino, estes times povoavam a minha imaginação com um gosto amargo de derrota.

Futebol nunca é apenas futebol porque mesmo com os 16 anos de fila e sendo sempre o único palmeirense da escola, eu nunca desisti, muito pelo contrário. A minha alma de torcedor foi forjada no fogo do inferno da derrota e da humilhação, e isto ninguém vai destruir.

Futebol nunca é apenas futebol porque naquele início de noite de junho de 1993, o Palmeiras foi campeão e eu não sabia o que fazer. Eu não sabia se corria, se gritava, se chorava, e tive que perguntar pro meu pai como fazer, mas ele também não conseguia me responder.

Futebol nunca é apenas futebol porque naquele dia eu aprendi uma sensação nova, que eu só imaginava que existia mas não fazia idéia do que era, algo apenas comparável com o primeiro beijo ou a perda da virgindade. Eu enfim poderia parar de ler aquela Placar velha, que falava sobre as glórias do passado e não precisava mais tentar imaginar o que tinha sido aquela decisão de 1976 contra o XV de Piracicaba.

Futebol nunca é apenas futebol porque ele nunca me abandona, como eu nunca o abandonarei. O Palmeiras me deu muito, muitos amigos, muitas alegrias, também muitas tristezas, mas eu tenho certeza que ele não queria isso, o Palmeiras nunca quis me magoar, ele sempre me quis ver feliz. Mas nem sempre isso é possível.

Futebol nunca é apenas futebol porque futebol e Palmeiras são sinônimos de mim e meu pai, eu não consigo imaginar o Palmeiras sem a existência do meu pai, que me apresentou este time, me apresentou esta paixão, me levou aos estádios quando eu mal entendia as coisas e continuou me levando quando eu entendia aquilo muito bem.

Futebol nunca é apenas futebol porque mesmo quando tudo ruiu, e a minha relação com ele chegou aos piores níveis possíveis, o futebol nos uniu e nos confortou. Nos confortou naquele jogo contra o Cruzeiro, pelo Brasileiro do ano passado, quando ganhamos bem e nos trouxe um pouco de luz no inferno. Nos alegrou quando pudemos, ano passado também, assistir ao jogo contra o Vitória no Palestra depois de tantos anos longe, sendo que daquela vez eu o convidei, e isso me deu uma alegria gigante.

Futebol nunca é apenas futebol porque no jogo contra o Grêmio, na despedida em jogos oficiais do estádio que eu aprendi a amar, a alegria não foi completa, porque eu não pude olhar para o lado e ver ele comigo, lá, xingando e comemorando.

Futebol nunca é apenas futebol porque as lembranças, histórias e laços que ele cria são eternos.

Portanto nunca, jamais, em tempo algum, diga para um apaixonado que aquilo é 'apenas' futebol, pois não é verdade. O futebol é muito maior do que isso e quem não consegue compreender, não deve criticar nem fazer pouco, pois o futebol nunca é apenas futebol.

E obrigado pai, por me transformar num apaixonado por futebol, e por trazer o Palmeiras até a minha vida!


Texto replicado nos meus dois blogs, pois ele é muito mais do que apenas uma postagem sobre futebol, é sobre vida e amor.